O prefeito Abraão David Neto (PL) sancionou a Lei 6768/2023, denominando oficialmente a pista de atletismo existente dentro da Vila Olímpica Marcos Fernandes, como Pista de Atletismo Rui e Delmo da Silva.
De autoria do vereador Jorge Luiz Scalise Xavier (PTB), a Lei é oriunda do PLO 54/2022, aprovado por unanimidade em dois turnos no Plenário Vereador Orlando Hungria da Câmara Municipal de Nilópolis, e homenageia os irmãos velocistas Rui e Delmo da Silva, nascidos em Nilópolis e que fizeram história no atletismo de velocidade no Brasil na década de 1970.
Irmãos unidos no esporte
Os grandes momentos da velocidade do atletismo no Brasil na década de 1970, há quase meio século, foram marcados pelos irmãos nilopolitanos Rui e Delmo da Silva. Principalmente no caso de Rui, chegou a figurar entre os melhores do mundo, embora questões da época – pouca competição dentro de um esporte amador, limitações econômicas – o impedissem de chegar mais alto.
Ambos brilharam no elenco do Clube de Regatas Vasco da Gama, no Rio de Janeiro. Rui chegou lá por iniciativa do técnico Vladimiro Montesano, que havia detectado as condições de um velocista quando estava no Exército. Nasceu a 15 de setembro de 1951 e já nas primeiras competições atléticas, aos 22 anos, correu os 100 metros em menos de 11 segundos. E em 1974 ele estabeleceu 20,6 manuais para os 200 sprints, ficando apenas um décimo atrás do recorde sul-americano do venezuelano Arquímedes Herrera. Delmo, o seu irmão mais novo, nasceu a 9 de junho de 1954 e também veio para o nosso desporto para acompanhar o Rui, que este estudava no Colégio das Artes.
Rui foi proclamado campeão sul-americano dos 100 e 200 metros rasos em Santiago do Chile (1974), obtendo a terceira medalha de ouro no revezamento curto. Repetiu esse feito nas competições seguintes no o Rio (1975) e Montevidéu (1977). Apenas seus compatriotas José Bento de Assis (no início dos anos 1940) e Robson Caetano da Silva (nos anos 1990) e o chileno Iván Moreno (1965, 1967 e 1969) conquistaram o hectômetro em três edições consecutivas do Sul-Americano. Nessas mesmas competições sul-americanas de 75 e 75, Delmo também foi vencedor nos 400 metros; e são poucos os casos na história dos campeonatos em que os irmãos triunfaram simultaneamente (os argentinos Erico e Ian Barney venceram em 1965 no arremesso de vara e dardo respectivamente, enquanto seus compatriotas Juan e Emilia Dyrzka foram campeões com barreiras em 1963 e 1971).
Em 1975, Rui teve de correr em casa, no estádio Célio do Barros, levando os 100m com 10,5s e os 200m com 20,9s, enquanto o irmão Delmo se apresentava na seleção e venceu os 400m com 47s.0, superando por um segundo o colombiano Villegas, campeão das 400 barreiras. Delmo também foi campeão no revezamento longo. Na semana seguinte, no mesmo palco, realizou-se a Taça Latina com a visita das equipes da França, Itália e Espanha, e aí Rui voltou a triunfar nos 100m com 10s.3, terminando em segundo nos 200m com 21s1, em grande duelo com um dos melhores velocistas europeus do momento, o francês Bruno Saint-Rose. Delmo, por sua vez, venceu os 400 metros em 46,6s.
Os Jogos Pan-americanos daquele ano, transferidos para o México em outubro, marcaram a consagração do craque do atletismo brasileiro, João Carlos de Oliveira, com o recorde mundial do salto triplo. Mas os irmãos Da Silva tiveram uma participação muito boa. Para Delmo foi a melhor corrida da sua vida nos 400 flats, estabelecendo o recorde nacional de 45s53s e conquistando a medalha de bronze, atrás do americano Ronald Ray (44s.45) e do cubano Alberto Juantorena (44s.80). Rui subiu à final dos 100 metros e foi 7º, o cubano Silvio Leonardo ali triunfando com 10s15. E no revezamento curto, o quarteto brasileiro de Ronaldo Lobato, Nelson Rocha, Oliveira e Rui melhorou duas vezes o recorde sul-americano (39,36 na qualificação, 39,18 na final), terminando na cola de Estados Unidos, Cuba e Canadá.
Esses resultados e a perspectiva das Olimpíadas de Montreal encorajaram os dois irmãos. Delmo não conseguiu chegar às semifinais (46s.69), enquanto o grande protagonista dos 400 metros foi Juantorena, também campeão dos 800 metros em dupla histórica. Rui, por seu lado, chegou às meias-finais nos 100 (7º com 10,54) e garantiu um lugar entre os 200 finalistas, depois de registar o seu recorde pessoal de 20,76 na fase dos quartos-de-final. O campeão olímpico foi o grande jamaicano da era pré-Bolt, Donald Quarrie, com 20,23 segundos, à frente da dupla dos EUA, enquanto outra lenda como o italiano Pietro Menna foi quarto e Rui terminou em 5º com 20,84.
Os Campeonatos Mundiais ainda não haviam sido lançados e, no final da década de 1970, a emergente Copa do Mundo despontava como o evento mais popular. Rui e Delmo integraram a seleção das Américas para a edição inaugural, em Düsseldorf (1977). Delmo conseguiu o terceiro lugar como elemento da estafeta longa, que Juantorena finalizou, e o mesmo foi conseguido por Rui no 4×100, formando ao lado de grandes figuras: Leonard, Quarrie e o cubano Osvaldo Lara. O vencedor foi o quarteto dos Estados Unidos com o recorde mundial de 38s.03.
Pouco depois, ambos se apresentaram no Parque Battle y Ordóñez, em Montevidéu, revalidando seus títulos sul-americanos. Rui, com 10,3s e 21,3s, superou Katsuiko Nakaia nas provas de velocidade, depois o grande treinador de velocistas da CBAT. Delmo marcou 47,70 segundos para vencer o chileno Ariel Santolaya por apenas um centésimo nos 400m. E eles adicionaram mais títulos com os revezamentos.
Tanto Rui como Delmo receberam propostas da Universidade Brigham Young de Provo (EUA) para ali continuarem suas campanhas, assim como outras figuras da época: Agberto Guimarães, Tito Steiner e Themis Zambrzycki. No entanto, preferiu ficar no Brasil e tentar a sorte no futebol, com o Vasco da Gama primeiro e o Fortaleza depois. Eles não passaram das divisões amadoras e então o esporte ficou para trás para eles.
Os irmão morreram jovens: Rui, a 5 de maio de 1999, e o irmão Delmo, a 24 de fevereiro de 2010, vítima de um enfarte. Deixaram uma memória indelével, a de dois irmãos unidos pela paixão pelo atletismo e pela qualidade nas pistas.