A manhã desta segunda-feira (19/02) foi de terror para quem mora ou passava pela Rua Getúlio Vargas, nas imediações da Rua Marechal Castelo Branco, no Centro de Nilópolis. Uma intensa troca de tiros fechou uma das principais vias do município.
A Spin onde estavam os bandidos. Foto: DivulgaçãoSegundo a Polícia Militar, agentes do 20º BPM (Mesquita) avistaram uma Chevrolet Spin com quatro homens. Foi dada ordem de parada e os ocupantes dispararam diversas vezes contra os policiais, que reagiram e conseguiram balear três ocupantes. Na ação, os bandidos ainda bateram com o veículo na traseira da viatura policial. Todos foram socorridos para unidades médicas nas proximidades, dois deles não resistiram aos ferimentos. Um quarto ocupante do veículo foi preso.
Segundo a Polícia Militar, o grupo seria dos Complexos do Chapadão e Pedreira, na Zona Norte e estaria se deslocando para a Comunidade da Chatuba, já que os complexos estavam sendo ocupadas por uma operação policiais desde as primeiras horas.
Com o grupo, os agentes apreenderam três fuzis, uma pistola, uma granada, sete carregadores, dois rádios transmissores, uma capa de colete balístico, quatro telefones celulares, drogas e a Chevrolet Spin.
O material e o preso foram encaminhados para a 57ª DP (Nilópolis), onde o caso foi registrado. A ação envolveu ainda a participação de agentes do programa Nilópolis Presente.
Três bandidos foram baleados durante perseguição e tiroteio em Nilópolis. #BalançoGeralRJ pic.twitter.com/EDrwcp0b2E
— Tino Junior (@tinojunior) February 19, 2024
Rotas da bandidagem
Cercado de áreas onde a criminalidade mantém redutos, como as comunidades do Chapadão, Chatuba e Gato Preto, o município de Nilópolis acaba servindo de “passagem” para os criminosos que saem de uma comunidade com destino a outras.
Não é de hoje que bandidos usam vias de grande circulação em Nilópolis para trafegarem normalmente. Mas, chama a atenção o fato de não estarem usando somente as vias como caminho. No caso da Rua Getúlio Vargas, desde o início de 2024 já foram registrados três casos que desafiaram as autoridades de segurança pública. Em todas a dinâmica foi a mesma: homens armados interceptaram os veículos que desejavam roubar e renderam os ocupantes. Sem alternativas, as vítimas tiveram que abandonar seus bens. Concidentemente, duas ações ocorreram na Rua Getúlio Vargas, uma no bairro de Olinda e outra no Centro, nos dias 17 e 18/01, respectivamente. A terceira aconteceu no dia 28/01, na Rua Vicente Celestino, que dá acesso a Rua Getúlio Vargas, também no Centro.
No caso desta segunda-feira (19/02), a Polícia Militar conseguiu interceptar os criminosos. A princípio, segundo a corporação, a intenção dos bandidos era se deslocar do Complexo do Chapadão, na Zona Norte do Rio, para a Comunidade da Chatuba, em Mesquita. Percurso comumente feito pela bandidagem, principalmente nos finais de semana.
“Infelizmente Nilópolis virou praticamente uma ilha no meio de um oceano da bandidagem. Quem trabalha com segurança pública no Rio de Janeiro sabe que a bandidagem se desloca entre as comunidades e muitas das vezes é muito difícil fazer a abordagem, já que, assim como aconteceu neste caso, a reação dos bandidos é extremamente violenta e pode provocar a morte de inocentes”, disse o ex-policial militar, Fábio Mendonça.
Ainda de acordo com Fábio, que já trabalhou na região, aponta algumas rotas e horários usados pela bandidagem:
“Principalmente nas madrugadas dos finais de semana, as ruas João Evangelista de Carvalho, Getúlio de Moura e Getúlio Vargas são muito usadas pelos bandidos que fazem a ligação da Chatuba com as comunidades do Complexo do Chapadão. No bairro de Olinda, a Ponte Azul, a Rua Nilo Peçanha e a Roberto Silveira também são rotas para a bandidagem. Quando trabalhava nessas regiões, era comum encontrar “bondes” passando, principalmente em motocicletas, e como Nilópolis tem muitas vias que se interligam, eles acabam se espalhando e conseguindo fugir, isso sem contar no fato, que muitos se passam por moradores, dificultando a ação dos policiais”, completou.
Para Roberto Muniz, ex-policial militar e pesquisador em segurança pública, a saída para amenizar os problemas pode ser a criação de barreiras nas entradas e saídas da cidade:
“Nilópolis é um município pequeno, com poucas entradas e saídas, mesmo assim, não digo que é fácil ou que a criação de barreiras nessas vias, vá acabar com a criminalidade, mas acredito que seria uma medida viável que iria inibir as ações criminosas e até mesmo evitar o deslocamento da bandidagem por dentro do município. Mesmo assim, não basta colocar viaturas e policiais apenas nas barreiras, mas sim criar uma estratégia que envolva ainda a colocação de câmeras de monitoramento em todo o município. Nem sempre será possível identificar um carro suspeito entrando no município, mas com as câmeras, mesmo que ele entre, será possível fazer a abordagem”, analisou.
Condomínio fechado
Em 2016, o então prefeito Alessandro Calazans, anunciou que iria construir barreiras de concreto em três pontos do município: Ponte Azul, no limite com o Rio; Ponte Inácio Serra, no limite com Mesquita; e Ponte Canadense, no limite com São João de Meriti. O objetivo era impedir passagens de carros nesses locais e, assim, tentar coibir os roubos de veículos nessas regiões. As áreas são próximas às entradas das comunidades Chapadão e Chatuba, dominadas pelo tráfico de drogas.
Na época, algumas barreiras de concreto chegaram a ser colocadas na Ponte Inácio Serra, no limite com Mesquita, mas dias depois, moradores da comunidade da Chatuba, derrubaram os obstáculos. Alessandro Calazans afirmou na época que a ação foi orquestrada pelo tráfico de drogas local. Por alguns meses a Prefeitura chegou a reconstruir as barreiras, mas com a derrota de Calazans nas eleições daquele ano, o projeto foi deixado de lado.