Pesquisa realizada, em 2023, com 1.161 recrutadores e profissionais, pela Robert Half, empresa especializada em recrutamento, na rede profissional LinkedIn, mostra que a maior barreira a ser ultrapassada pelas profissionais mães é conciliar carreira e família. Cinquenta e cinco por cento das entrevistadas apontaram essa tarefa como a mais espinhosa na atuação no mundo corporativo. A questão da empregabilidade foi a segunda mais citada, chegando à marca de 20%. Em terceiro lugar, com 17% das respostas, aparece a falta de suporte no retorno do período da licença maternidade. A insegurança psicológica foi a quarta escolha, com 8% de indicações.
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 7º, inciso XVIII, confere à mulher gestante o direito a licença-maternidade, sem o prejuízo de salário e do emprego, com a duração de 120 dias. Embora exista a proteção da lei, o que ainda se observa no mercado profissional é a resistência de parte das empresas em aceitar empregar a força de trabalho feminina. O reflexo desse comportamento está no menor número de mulheres se destacando em cargos de liderança.
Para o gestor de carreiras e professor universitário, Ricardo Machado, que atua em Nilópolis e em toda a Baixada Fluminense, o mundo organizacional é parte da sociedade e é com ela que ele interage.
“É para a sociedade que as empresas vendem seus produtos. Os funcionários da empresa também são a sociedade. O seu mercado de atuação está na sociedade. Assim, estar alinhando com os objetivos, anseios e desejos da comunidade consumidora de seus produtos é fundamental para todas as organizações. E um dos aspectos que tem sido debatido como um dos mais urgentes para as empresas é a construção de um ambiente organizacional de total diversidade”, explica o gestor de carreiras.
Ricardo Machado reconhece que ainda se vive em um mundo com diversos estigmas que diferem, excluem e segregam inúmeros grupos sociais. Segundo ele, o desafio das organizações ainda é muito grande.
“A começar pela presidência, direção e demais lideranças que foram formadas com visões totalmente desconstruídas atualmente, mas que ainda estão em suas ações e determinações nas organizações. Como, por exemplo, a de preferir candidatos homens em diversas situações profissionais. Quando não, privilegiam mulheres sem filhos em suas contratações ou na hora da escolha para cargos de liderança”, analisa.
Um dos aspectos observado por Ricardo Machado é quando uma das funcionárias sai de licença maternidade. Será que existe uma política estabelecida de acolhimento em seu retorno, com uma qualidade e segurança como um “colo de mãe”?
“Infelizmente muitas profissionais viram seus postos de trabalho sumirem logo após o período obrigatório garantido por lei para preservação de seus empregos. Muitas, por opção a não prejudicarem suas carreiras, adiaram o momento de ter filhos. Parece que ser mãe é algo que vai contra os objetivos corporativos da empresa. Como se fosse uma postura negativa do funcionário”, frisa.
De acordo com Machado, para essa antiga questão, ganha força um conceito que chega com total empoderamento: diversidade.
“Junto com muitos outros grupos excluídos, as mamães das empresas, começam a perceber, para valer, uma nova visão empresarial. Felizmente o mundo está realmente mudando. E a boa notícia é que neste sentido é para melhor. Está claro para as organizações que o diverso é sensacional. Muitos grupos devem estar representados dentro do ambiente organizacional. Pessoas de diferentes etnias, gêneros, orientações sexuais, deficiências, religiões ou nacionalidades, têm formado super times que verdadeiramente levam empresas a serem merecidamente rotuladas de organizações que valorizam a diversidade. E dentre tantos grupos, o das mamães que também precisa ser acolhido”, afirma Machado.
“Este posicionamento é uma troca justa com a sociedade? Sim, é.
“É uma prática que deixa a empresa ‘bem na fotografia’ perante a sociedade? Sim, deixa. E tudo isso e outros possíveis fatores, por si só, já valeriam a pena. Mas a empresa tem lucro com isso? Sim, ela tem lucro com este posicionamento. Apesar de não ser o foco, é sim uma questão de inteligência organizacional. Como? Vejamos: a profissional que virou mãe, assim como os demais colaboradores da empresa, são considerados um capital intelectual da organização. Ou seja, neles, foram investidos muitos valores em treinamento e desenvolvimento de talentos. E isso é investimento que gera lucro. E não despedimos, não jogamos fora o nosso lucro. Não é verdade? Manter a profissional, é evitar que o seu talento seja desperdiçado e surja a necessidade de contratar e treinar outra pessoa”, avalia o gestor Machado.
Outro aspecto que deve ser considerado, segundo Machado, é que o acolhimento da funcionária mãe de uma criança recém-nascida, quando é feito com total dedicação e atenção, não gera um posicionamento positivo perante apenas a funcionária e a sociedade, mas perante todos os demais trabalhadores da organização.
“Isso demonstra para todos os outros grupos de pessoas que se sintam pertencentes aos demais grupos que culturalmente são excluídos em nossa sociedade, que ali, naquela organização, eles também são valorizados e são acolhidos pela política da empresa. Então, lideranças organizacionais, fiquem atentas ao choro do bebê, pois mamãe bem acolhida na empresa é um símbolo de diversidade. E isso é lucro para a organização” conclui Machado.