A presença de cabos e fios baixos tensionados em postes é uma cena comum em Nilópolis, e o emaranhado de fios, além de ser esteticamente desagradável, pode ocasionar acidentes, especialmente com caminhões de carga e ônibus de dois andares usados por empresas de turismo.
Relatos de Acidentes e Dificuldades
Os caminhoneiros frequentemente têm histórias sobre problemas com fios baixos. Francisco Xavier, um motorista de caminhão, chegou a ser levado à delegacia devido a um incidente desse tipo.
“O dono ficou chateado e veio atrás de mim armado. Eu tive que sair correndo e fui até a empresa, onde o gerente me orientou a ir à delegacia. A polícia constatou que o fio estava realmente baixo demais”, relatou Francisco.
Para quem trabalha com turismo, a situação também é complicada. João Ignácio, proprietário de uma agência de viagens turísticas, conta que já não oferece mais os ônibus de dois andares:
“Mandar um ônibus de dois andares para Nilópolis é arriscado por causa da fiação baixa, especialmente nos bairros mais periféricos. Quando insistem, eu peço que alguém vá na frente do ônibus, verificando a fiação”, disse João.
Impacto nas Empresas
Gerentes de supermercados também enfrentam problemas ao fretar caminhões com carroceria baú:
“Já socorri motoristas que ficaram presos em fios. Além de deixar moradores sem luz e telefonia, há risco de explosão. Sempre que peço carga para a loja de Nilópolis, peço caminhões baixos”, relatou o gerente de uma rede de supermercados, que preferiu não se identificar.
Normas e Alturas de Fiação
A altura máxima permitida para caminhões em áreas urbanas é de 4,40 metros, conforme a Resolução nº 882/2021 do Contran. A altura mínima para cabos é de 5 metros acima do solo, mas a Light, responsável pelo fornecimento de energia elétrica em Nilópolis, determina que nos casos em que a unidade consumidora se encontrar no lado oposto da rede de distribuição aérea, a altura mínima deve ser de 7 metros.
Já para cabos de telefonia e TV a cabo, a ANATEL não estabelece normas específicas. Muitos dos cabos que causam acidentes são justamente desses serviços.
“Há apenas a norma NBR 15214 que trata do compartilhamento de infraestrutura entre redes de distribuição de energia elétrica e telecomunicações. Em tese, os cabos deveriam estar pelo menos a 5 metros acima do solo, mas geralmente estão abaixo desse nível”, explicou Fernando Medeiros, engenheiro eletricista.
Propostas de Solução
O urbanista Anderson Mourão sugere que a solução seria investir em redes subterrâneas:
“Embutir toda a fiação elétrica em redes subterrâneas seria um custo inicial alto, mas reduziria os gastos com manutenção e eliminaria problemas com árvores e caminhões. Além disso, a paisagem ficaria mais bonita e segura”, afirmou Mourão.
Prejuízos para os Consumidores
A queda de postes e a derrubada de fios também causam prejuízos aos consumidores. Lúcia Amorim teve o poste de sua residência quebrado por um caminhão que puxou a fiação. Ela conta que a empresa proprietária do caminhão conseguiu provar na Justiça que a fiação estava abaixo da altura mínima:
“Não teve jeito, eles provaram que o caminhão estava dentro dos limites e a fiação estava baixa. Infelizmente, tive que arcar com o prejuízo, pois não dava pra saber quem eram os donos dos fios”, lamentou Lúcia.
A Secretaria Municipal de Transportes, informou que, assim que toma conhecimento de algum veículo mais alto entrando no município, procura monitorar e acompanhar o seu deslocamento e caso haja necessidade, uma viatura é deslocada para auxiliar.
No que tange a fiscalização da altura dos fios, a Prefeitura informou que se trata de uma responsabilidade das agências reguladoras, mas que mantém dialogo com as concessionárias e as notifica em caso de identificar algum fio que esteja prejudicando o tráfego de veículos.
