No último sábado (12), uma notícia nostálgica fez brilhar os olhos de muitos brasileiros: o retorno de Chaves à programação do SBT, após quatro anos de ausência. O clássico humorístico, que ficou fora do ar devido a uma disputa judicial entre a Televisa e a família do criador Roberto Gómez Bolaños (1929 – 2014), voltou para reocupar um espaço no coração dos fãs e na televisão brasileira.
A reestreia foi um sucesso: marcou 5,1 pontos de audiência, de acordo com os dados prévios da Kantar Ibope em São Paulo. Isso representa um aumento expressivo de 82% em comparação com a mesma faixa horária da emissora na semana anterior, e um crescimento de até 100% no cenário nacional. Esses números revelam o poder duradouro do humor simples e da inocência que sempre caracterizaram a série dos anos 70.
Para muitos, inclusive eu, o retorno de Chaves e Chapolin vai muito além das métricas de audiência. Sou fã da obra de Roberto Gómez Bolaños desde a infância, e sempre mantive todos os episódios armazenados em meu HD, como um verdadeiro tesouro. No entanto, a emoção de ver a série de volta à TV aberta, em pleno 2024, traz uma sensação única de nostalgia e conforto que vai além de simplesmente assistir aos episódios.
Durante esses quatro anos de espera ansiosa, tive a oportunidade de me aproximar ainda mais desse universo. Foi um privilégio e uma grande alegria conhecer e trabalhar com Esteban Valdés, filho do inesquecível Seu Madruga, com quem acabei construindo uma bonita amizade. Também pude colaborar com o canal Vila do Chaves no YouTube e com a página Chaves Fotos Raras no Instagram, duas iniciativas que mantêm viva a memória e o carinho pela série.
E, claro, nesse tempo, não parei de criar. Realizei inúmeras tirinhas em quadrinhos inspiradas em Chaves, um tributo à série que tanto marcou a minha vida e a de milhões de pessoas. Essas tirinhas estão disponíveis no meu perfil do Instagram, como uma forma de compartilhar com outros fãs a essência e o humor que nos fazem sorrir há décadas.
A ansiedade e apreensão que muitos de nós passamos durante esses quatro anos, sem ter a certeza de que um dia veríamos Chaves novamente em sua casa original, o SBT, foram finalmente recompensadas. Assistir ao primeiro episódio dessa nova fase foi como reencontrar um velho amigo, aquele que conhece nossos melhores sorrisos e até nossos momentos mais difíceis.
O sucesso da reestreia, no entanto, não é apenas um mérito do valor sentimental que Chaves carrega. Ele também reflete a atual situação da televisão brasileira. Em um momento em que as produções buscam cada vez mais inovações tecnológicas, roteiros complexos e superproduções, a simplicidade de Chaves ressurge como um refúgio para quem busca um entretenimento despretensioso, mas que toca fundo na alma.
Com uma produção que nunca se destacou pela qualidade técnica — cenários simples, figurinos modestos e efeitos visuais rudimentares — Chaves sempre apostou no essencial: o carisma dos personagens, as piadas ingênuas e o cotidiano que, mesmo ambientado em uma vila mexicana, sempre nos pareceu tão próximo da nossa própria realidade.
O retorno do seriado ao SBT reforça o poder que a TV ainda possui de criar momentos coletivos de afeto e memória. E é nesse espaço que, como cartunista e fã de Chaves, decidi transformar em uma charge esse reencontro tão esperado. Porque, no fim das contas, assim como os personagens da vila, nós também aprendemos que “não há nada mais bonito que a felicidade das coisas simples”. E nada mais reconfortante que ouvir, novamente, aquele inconfundível som da risada do Seu Madruga, o “Gentalha! Gentalha!”, e sentir que, por alguns minutos, estamos todos juntos na mesma vila, rindo das mesmas piadas, como nos velhos tempos.