Antes de falarmos sobre a premiação, de maneira estrita, é necessário passearmos um pouco pelos números e pela história de nosso país para entendermos porquê é tão necessário valorizarmos o povo negro brasileiro.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD Contínua 2022, mostram que 42,8% dos brasileiros se declararam como brancos, 45,3% como pardos e 10,6% como pretos. Esse somatório demonstra que os pretos e pardos são a maioria de nossa população brasileira.
Fazendo uma pequena reflexão histórica, observamos que esta significativa parcela da população foi vítima do que há de pior na trajetória de um povo, considerando que seus ancestrais não foram convidados a vir ao Brasil, mas escravizados e retirados à força de seu berço natal no continente africano, a chamada diáspora.
A história nos conta que o Brasil foi o último país a abolir a escravidão do povo negro em 13 de maio de 1888 e esta “liberdade” os levou à outro tipo de escravidão: a da degradação social. Sem um lar, sem trabalho e sem um planejamento do Império para reparação dos danos em suas vidas e qualificação de mão de obra, bem como uma política de alfabetização necessária, poucos negros libertos foram bem sucedidos naquele tempo.
Exemplos como o Engenheiro André Rebouças, o primeiro Engenheiro negro do Brasil (que dá nome ao Túnel Rebouças, no Rio de Janeiro) são raríssimos. O povo negro ficara à margem da sociedade e refém de sua própria sorte, com todo tipo de constrangimento, preconceito e desdém. Ainda que libertos, viveram em condições subumanas e, muitos de seus descendentes, ainda passam por situações similares nos dias de hoje.
Chegamos ao século XXI e o Brasil, através de políticas de ações afirmativas, vem paulatinamente fazendo reparações históricas com o povo negro, seja através da Lei de Cotas estudantis ( Lei nº. 12.711/2012 ) ou leis que transformam o racismo em crime inafiançável (Lei n°. 7716/1989 e Lei n°. 14532/2023). Temos visto também o povo negro como protagonista artístico nas novelas, sem esquecer da novela Vai na Fé, de altíssima audiência, realizada pela Rede Globo de Televisão. Contudo, episódios nas redes sociais de racismo não são coisa de outro mundo, estes vem acontecendo de maneira muito escancarada, ao arrepio da Lei, atingindo diretamente a artistas, trabalhadores ou pessoas comuns.
A vítima mais recente, e de Nilópolis, foi Sônia Maria Regina Mascarenhas, a lendária Sônia Capeta, Rainha de Bateria do G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis de 1989 a 2003, atacada nas redes sociais e que não se calou diante do episódio em que foi comparada a um gorila.
Sônia não foi a primeira artista a passar por isso, tampouco deverá ser a última, caso a nossa sociedade não perceba que trabalhar a igualdade em direitos e condições do povo negro, bem como elevar seu real protagonismo na história do Brasil é extremamente necessário e que racismo não é brincadeira, é crime.
Na contramão desta história, o Vereador Álvaro Cunha Ramos – Alvinho (Avante) realizou no dia 30 de novembro o Prêmio Personalidade Negra 2023, em que pessoas pretas e pardas, de vários campos da sociedade Nilopolitana, receberam um troféu e um certificado pelo seu protagonismo e sua história. Várias autoridades do cenário político municipal estiveram presentes, tais como o Secretário de Cultura Antônio Carlos da Costa, o Subsecretário de Serviços Públicos Eduardo Nascimento e o Prefeito Abraão David Neto que fez questão de enfatizar em seu discurso que é preciso que a sociedade tenha uma postura anti-racista, e o quanto aquele momento era importante na Cidade de Nilópolis, bem como parabenizou o Vereador Alvinho pela iniciativa no parlamento municipal.
Já o Vereador Alvinho falou que, além de pedir perdão, a sociedade brasileira deve agradecer muito o que o povo negro fez pelo país, deixando claro seu compromisso em lutar, na Câmara de Vereadores contra todo e qualquer tipo de preconceito.
Dentre as personalidades que receberam a premiação estavam o Bispo da Diocese de Nova Iguaçu, Dom Gilson, a Tia Zezé D’Ogún, representando as religiões de matrizes africanas, Dona Francisca, de 99 anos, da Comunidade Santo Antônio do Cabral, funcionários da Prefeitura de Nilópolis, como a Chefe do Protocolo Geral Maria Auxiliadora Moura, artistas nilopolitanos, como o Dançarino Celso Tardin, além dos integrantes da Beija-Flor de Nilópolis, Lorena Raíssa, Rainha de Bateria; Pedro Philippe Reis, do Departamento de Comunicação; Plínio de Morais, Mestre de Bateria e Sônia Capeta que emocionou a todos com um discurso que falou alto aos corações, diante do episódio de racismo que havia sofrido.
As entregas dos certificados e troféus foram feitas ao som de personalidades negras da música popular brasileira, tais como Vander Lee, Djavan, Milton Nascimento, Sandra de Sá, Cartola, entre outros. Ao final do evento, foi servido um coquetel aos convidados no Salão Nobre da Câmara.