Moradores do bairro Manoel Reis, em Nilópolis, estão enfrentando sérios problemas devido à falta de transporte público. A linha 002 (Manoel Reis x Rodoviária), única opção municipal para a comunidade, está praticamente abandonada pela empresa Nilopolitana. Com isso, a população é forçada a buscar alternativas financeiras inviáveis para a maioria.
Composto majoritariamente por residências, Manoel Reis necessita de transporte eficiente para o deslocamento de seus moradores, principalmente em direção ao Centro de Nilópolis.
Impacto na Vida dos Moradores
Apesar de a linha 002 circular aos finais de semana, a frequência dos ônibus é insuficiente. Os moradores relatam que a empresa disponibiliza apenas um ônibus aos domingos, com viagens que se encerram antes das 18h. Durante os dias úteis, a situação não é muito melhor. A primeira viagem parte do bairro às 6h e a última sai do Centro às 20h. A frequência é escassa, com a população esperando até 40 minutos pelo próximo ônibus.
Rafael Araújo, enfermeiro de 45 anos, mora na Rua Antônio Félix desde 2013 e utilizava frequentemente a linha de ônibus. Ele descreve o transtorno vivido desde que a linha 002 foi negligenciada:
“Morava em Japeri, em um bairro onde os ônibus passavam apenas pela manhã e no final do dia, e somente durante a semana. Como sou enfermeiro e trabalho em plantões, muitas vezes chegava ao Centro de Japeri e não havia ônibus para voltar para casa. Ou então precisava sair de casa bem antes do horário para pegar o último ônibus e conseguir chegar ao trabalho, fazendo malabarismos nos finais de semana. Quando tive a oportunidade de me mudar, escolhi Manoel Reis pela frequência dos ônibus, mas agora estou vivendo o mesmo drama de antes”, relata.
Alternativas Inviáveis e Insegurança
Muitos moradores recorrem a aplicativos de transporte ou caminham até o Centro, o que aumenta a sensação de insegurança, como no caso de Raíssa Pessoa, que foi assaltada durante um trajeto a pé.
“Saí de casa e vi o ônibus da Nilopolitana passando, o que significava que o próximo demoraria pelo menos 30 minutos para chegar. Decidi ir andando e, na altura da Rua João Pessoa, percebi que dois homens em uma moto passaram por mim e fizeram a volta. Eles pararam ao meu lado e fizeram uma pergunta para disfarçar. Juro que nem entendi a pergunta, pois já pressentia que seria assaltada, e não deu outra: o garupa mostrou a arma e pediu meu celular.”
A moradora Rúbia Tamara, define bem a situação de quem depende do ônibus 002:
“É uma vergonha. Quem tem um pouco mais de condição ou consegue um amigo para dividir o custo vai de Uber, mas nem todos têm essa possibilidade. Além disso, quem trabalha em empresa privada e precisa pegar outro ônibus além do Manoel Reis usa RioCard e é obrigado a usar o ônibus para economizar no deslocamento. Mototáxis só aceitam dinheiro e nem todos se sentem seguros nesse transporte. Ou seja, algumas pessoas acabam indo a pé até o Centro”, explicou a assistente social.
Para os idosos e deficientes, a situação é ainda mais crítica, com ônibus em péssimas condições e elevadores frequentemente fora de serviço.
“Hoje, preciso programar minhas saídas e retornos para casa de acordo com a circulação dos ônibus da Nilopolitana. Além disso, muitas vezes tenho que contar com a solidariedade dos outros passageiros para embarcar, pois a maioria dos ônibus está em péssimas condições e encontrar um com o elevador funcionando é uma raridade”, relatou o cadeirante, Lucas Santos.
Medidas e Esperança
O que poderia ser uma opção, a linha intermunicipal 478 (Mesquita x Central do Brasil), da empresa Vera Cruz, não atende adequadamente às necessidades da população local, já que os ônibus passam de hora em hora e não seguem até o centro do município. É justamente essa a maior reclamação dos moradores.
“Tem essa linha que vai para a Central, mas assim como a 002, os ônibus demoram muito e não circulam no bairro todo. É outra empresa que presta um serviço muito ruim ao bairro”, diz o morador Manoel Ferreira.
A situação foi parcialmente amenizada com a chegada da linha 138I (Duque de Caxias x Nilópolis) ao bairro vizinho, Nossa Senhora de Fátima.
“Hoje pelo menos, principalmente para quem precisa usar o Metrô, já conseguimos pegar um ônibus sem precisar ir ao Centro, mas isso não atende a todos os moradores, precisamos é de ônibus aqui no Manoel Reis”, explicou.
No entanto, a solução definitiva ainda está pendente. O deputado estadual Rafael Nobre (União Brasil), protocolou um pedido para reativação da linha 542 (Nilópolis x Cascadura), que passaria pelo bairro Manoel Reis, mas o processo de licitação ainda está em andamento. De acordo com o pedido, a linha seguiria o mesmo itinerário da linha 002, atendendo também aqueles que precisam ir apenas ao Centro.
O pedido foi encaminhado ao Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (DETRO), que informou estar em andamento um processo de licitação das linhas intermunicipais, e que o pedido seria analisado pela comissão responsável pela preparação do edital.
De acordo com o deputado, tanto ele quanto o prefeito Abraão David Neto (PL), estão empenhados em encontrar uma solução definitiva para o problema de transporte dos moradores do Manoel Reis.
“Estamos cientes do problema que aflige os moradores do querido bairro Manoel Reis, garanto que, junto do prefeito Abraãozinho, vamos encontrar uma solução”, assegura o parlamentar.
Contexto da Crise Nacional
O país inteiro passa por uma grave crise no transporte público. A pandemia do COVID-19 afastou grande parte das pessoas dos coletivos, reduzindo a receita das companhias de transporte e criando um conflito entre os interesses públicos e privados. De acordo com um monitoramento da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), os prejuízos causados pela pandemia ao setor de transporte já somam R$14,24 bilhões. Em Nilópolis, a crise resultou no abandono de diversas linhas de ônibus pelas empresas responsáveis, alegando insustentabilidade financeira.
Em 2020, a Nilopolitana, assim como outras empresas de ônibus, sofrem com os impactos provocados pela pandemia de Covid-19. Com problemas financeiros, em setembro daquele ano, a diretoria informa ao DETRO que não havia mais condições de operar as linhas anteriormente entregues pelo órgão. Assim as linhas 129B, 420T e 516I são transferidas para a Linave Transportes. O mesmo acontece em 2021 com as linhas 433L, 434L, 717L, 719L, que também passaram a ser operadas pela Linave.
Apesar dos esforços da diretoria, a Nilopolitana não consegue se recuperar e no final de 2022, são iniciadas as negociações que culminaram na incorporação da empresa ao grupo Blanco. O operação é efetivada no primeiro semestre de 2023, quando também, já sob nova direção, a empresa deixa o Consórcio Reserva do Vulcão, e entrega a operação das linhas municipais de Nova Iguaçu à prefeitura local. Atualmente essas linhas são operadas pelas empresas Linave e Vera Cruz.
A nova diretoria também transfere, oficialmente, a sede da empresa para o município de Queimados, onde já havia uma garagem. A sua sede em Nilópolis é vendida e atualmente segue vazia.
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